quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Revendo as dores...



Hoje cedo, enquanto preparava meu chá para o desjejum, liguei o rádio para ouvir o que se passava pelo mundo. Pensei que me ouviria os porres das propagandas políticas, mas era demasiadamente cedo para que elas fossem veiculadas – o que achei ótimo.

O locutor, numa voz pior do que a minha, talvez por conta do sono... srrsrsrsr – soltava as notícias locais em gotículas avisando o que teria no seu menu: “O Presidente Lula estará no Ceará hoje, estaria no Pécem, em Quixeramobim e em Juazeiro para dar apoio políticos as bases locais do PT; A Igreja do Mucuripe entrará nos preparativos para a Festa de N. Sra. Da saúde (ou seria das dores?, não lembro)... Aí ainda falou algumas abobrinhas e passou a fazer uma oração à santíssima virgem. Foi neste instante que me deparei com uma dúvida.

Enquanto o locutor falava de Maria, eu fiquei imaginando: - Segundo o que dizem por aí, Maria não teve as famosas dores do parto, tão sofridas e inesquecíveis para as mulheres. No entanto será que ao longo de sua vida a Virgem não teve dores maiores, mais intensas e marcadas pela tristeza de não poder ir contra a vontade de algo maior que o seu instinto materno? O que teria Ela sentindo tendo de “aceitar” que seu filho gerado sem dor e concebido de forma inexplicável até hoje, passaria a ser perseguido pelos simples caprichos do poder? O que teria sentido Maria ao ver multidões pedindo que soltassem a Barrabás – conhecido como um dos piores elementos daquela época – ao invés de seu filho?

Coração de mãe resiste tanto? Vem cá, olha só, Maria ainda teve que ver o filho sendo humilhado em praça pública; sendo açoitado, cuspido, maltratado; carregando um objeto pesadíssimo numa hora em que se encontrava debilitado; Viu ainda, que foram poucas as pessoas que se preocuparam e ajudar; Ainda teve de suportar a visão do seu ‘menino’ crucificado agonizando em meio a revolta do tempo; Teve mais, teve de cuidar do corpo inerte e sem vida do filho que apresentava o corpo marcado pela ação brutal da ignorância humana, e até Ela(a Virgem) ter a certeza que o filho voltara a vida novamente, o que teria sentindo? Revolta? Sentia-se humilhada? Que consolo teria em saber que o seu Deus lhe dera um filho especial que ele (o filho) teria de passar por tudo aquilo sem que ela interviesse?

Será que algum dia Maria pensou: Valeu à pena ter enfrentado os comentários do povo? Ter enfrentado a ira de um homem que ainda não era o seu esposo pelo fato de estar grávida de DEUS? Ter fugido pelo deserto? Foi justo não ter tido as dores do parto? Foi justa tanta preocupação quando o filho desapareceu ainda pequeno, ou mesmo já adulto quando resolveu se exilar no deserto para pagar suas penitencias? Fui justo, se sentir dilacerada vendo o povo de sua sociedade ajudando a acabar com o seu filho, matá-lo?

Se Maria pudesse responder isso hoje talvez a resposta dela fosse igual a minha: - Estamos vivos! Foi pra isso que ele veio. (E se perceberia uma dor imensa no fundo da alegria radiante...)

Acredito que dores são coisas ruins. Porém piores são as pessoas, que só complicam suas vidas dando-lhes dores desnecessárias. Mas fica a dúvida: - E se ela tivesse sentido as dores do parto, amenizaria algo na história? Estaríamos aqui?

Nenhum comentário: